Para os Corinthianos
(que quero parabenizar) é um dia de tristeza e alegria: a vitória no brasileirão
não compensa, apesar de tudo, a perda de Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza
Vieira de Oliveira (Belém, 19 de fevereiro de 1954 –– São Paulo, 4 de dezembro
de 2011).
Tinha a minha idade.
No mundial de 1982, que vi numa situação particular, passeou por Espanha a sua
classe; ainda continuo sem perceber como foi possível a Selecção Brasileira de
Futebol não ganhar essa Copa do mundo. Mas, mesmo na mais profunda dor, como foi
essa eliminação, há sempre alguém que acredita na generosidade fraterna da
natureza (ou no fado):"Eu gostaria de passar
a mão na cabeça do Telê Santana e de seus jogadores (...) e dizer-lhes, com esse
gesto, o que em palavras seria enfático e meio bobo. Mas o gesto vale por tudo,
e bem o compreendemos em sua doçura solidária. Ora, o Telê! Ora, os atletas!
Ora, a sorte! A Copa do Mundo de 82 acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem
o Brasil com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de nós
todos"(Drummond).
Apreciámos, então,
como Sócrates era elegante, ágil e, em todos os sentidos, um grande jogador; a
maneira poética de jogar e o gracioso toque de bola faziam jus ao entendimento
que Carlos Drummond de Andrade tinha desse jogo único: “Futebol se joga no estádio?/ Futebol se joga na
praia, futebol se joga na rua, futebol se joga na
alma".
Embora
a alma seja o
verdadeiro campo onde o futebol se joga, não é o resultado dum jogo que muda o
rumo da história ou faz acabar o mundo; com
todas as dores e bens, como as que nos assaltam nestes tempos de
crise e angustia, torna-se incerta a profecia de continuarmos a ser iluminados
por um lindo sol lá fora, o sol de nós
todos. Melhor será que nos acautelemos, vocês e nós, pois 2014 está
aí. Como já não temos Pelé ou Eusébio, Figo ou Ronaldinho que nos valham,
importa inventar outros artistas para nos alimentar o sonho (ou a fé): "Se há um deus que regula o futebol, esse deus é
sobretudo irónico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de
zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel, tirou
do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino.
Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas
tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha
disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o
sonho".
Nno dia de sua morte,
ironicamente, o Corinthians, o time do coração de Sócrates, sagrou-se
pentacampeão brasileiro de futebol. Continuando a abusar de Drummond,
vascaino como eu, remato: "Perder
é uma forma de aprender. E ganhar, uma forma de se esquecer o que se
aprendeu".
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